domingo, 14 de outubro de 2012

AMORES QUASE IMPOSSÍVEIS

Quatro casais revelam como viraram a historia a seu favor e uma terapeuta conta por que as dificuldades podem ser apaixonantes...
por Iracy Paulina | foto Karine Basilio em 19.11.2007
A
Paixão à prova de distâncias
A DIRETORA DE MARKETING ADRIANA MAIA, 30 ANOS, CONHECEU O CONSULTOR COLOMBIANO HOMERO RAMIREZ, 37 ANOS, NUM CURSO DE INGLÊS, EM LONDRES. TIVERAM UM NAMORICO, SEGUIDO DE CORRESPONDÊNCIA APAIXONADA E NOVA VIAGEM. HOJE, ESTÃO CASADOS E MORAM EM SÃO PAULO COM JOÃO, 12 ANOS, FILHO DE ADRIANA, E BEATRIZ, DE 1 ANO E MEIO, FRUTO DA UNIÃO DO CASAL.

No início do namoro,em 1998, havia um oceano entre nós. E agora, por causa do trabalho, Homero às vezes só vem para casa nos finais de semana - é preciso confiança e amor para superar esse obstáculo. E olha que, quando o conheci, não dava nada por essa relação. Eu tinha ido a Londres, só por um mês, para fazer um estágio e um curso de inglês. Ele estava na minha classe e se preparava para o MBA. Em São Paulo, eu tinha um filho pequeno e um namorado; Homero também era comprometido na Colômbia. Em uma das atividades do curso, a professora pediu que listássemos 11 qualidades desejáveis em um companheiro. Minha lista bateu com a dele, os colegas brincaram, mas não ligamos muito. Só saímos juntos no último final de semana antes da minha volta para o Brasil. Aí pintou um clima. Eu vim embora, mas começamos a nos corresponder e ficamos ligados. Então, resolvi procurar uma pós-graduação na Inglaterra; batalhei bastante para passar uma temporada lá com o meu filho. Cheguei a Londre no dia do aniversário do Homero, quase um ano depois de termos nos conhecido. Acabei fazendo MBA junto com ele. No final do curso, eu recebi propostas de trabalho em Londres e no Brasil; para ele surgiu um convite da Colômbia... Decidimos vir para São Paulo, onde nos casamos. A chegada de nossa filha, Beatriz, completou a alegria.
"Batalhei um curso de pós graduação em Londres só para ficar mais perto de Homero."
ADRIANA
Encontro na internetAPÓS O ROMPIMENTO DE UMA RELAÇÃO DE 12 ANOS, A PROFESSORA CRISTIANE GAVALDON, 35 ANOS, CAIU NA REDE À PROCURA DE UM NOV PAR. FORAM SETE MESES DE TENTATIVAS E DECEPÇÕES ATÉ ENCONTRAR O MARIDO DOS SONHOS, O WEBDESIGNER WAGNER TANELLI, 35.Em 1998, depois de terminar um longo noivado,fui parar na terapia. A primeira coisa que a psicóloga disse é que eu precisav conhecer pessoas novas. O problema é que eu sou tímida, não sabia paquerar, seduzir. O jeito foi recorrer à internet. Eu estava disposta a encontrar "a tampa da minha panela" e chegava a ficar até seis horas por dia nas salas de bate-papo conversando com solteiros e descasados. Entrei em contato com muita gente, troquei fotos virtuais e arrisquei alguns encontros ao vivo. Amarguei decepções, claro, muitos não são nada daquilo que mostram na net. Teve até um cara que me mandou um retrato de quando ele era 20 anos mais jovem... Minhas amigas viviam apreensivas, temiam que eu me metesse em alguma fria. Mas meu garimpo deu certo: logo na primeira conversa virtual que tive com o Wagner, quis conhecê-lo. Algumas semanas depois, marcamos encontro no estacionamento de um shopping (por medida de segurança, sempre preferi lugares públicos e dava todas as coordenadas a minha mãe). À primeira vista, o Wagner não era nada do que eu tinha imaginado, mas continuamos saindo e, depois de quatro finais de semana na praia, eu já estava perdidamente apaixonada. Ele é bem-humorado, companheiro, encantador, o homem que eu sempre quis. Tanto que seis meses depois fomos morar juntos. Isso já faz sete anos e temos uma filhinha, Carolina, de 3.Valeu a pena procurar: eu nã tenho dúvida de que encontrei a minha alma gêmea.
"Procurei muito até achar Wagner,o homem da minha vida, na internet."
CRISTIANE

Romance não tem idade O COMERCIANTE ERICK FERREIRA, 32 ANOS, PRECISOU INSISTIR MUITO PARA CONQUISTAR O CORAÇÃO DA ADVOGADA SILVIA LOPES VENDITTO, 45 ANOS. ELA NÃO QUERIA SE ENVOLVER COM UM HOMEM MAIS JOVEM. MUDOU DE IDÉIA E NÃO SE ARREPENDE - ESTÃO JUNTOS HÁ SETE ANOS.Quando conheci o Erick,ele estava saindo do primeiro casamento. No início, não dei corda, com medo da diferença de idade. Eu já havia namorado um cara bem mais novo e a relação tinha terminado porque ele era muito imaturo. Então, fui levando na brincadeira... até que o Erick me beijou. Ele me conquistou assim. Capitulei de vez quando passamos a namorar e ele, que morava longe, vinha me ver todas as noites. Em dois anos, comprei um apartamento e fomos morar juntos. Eu já contava com uma situação estável; ele ainda estudava e não tinha uma carreira definida, mas sempre fez questão de dividir as despesas da casa. Erick trabalha com revenda de automóveis e até hoje reluta muito quando tento ajudá-lo financeiramente. Enfrentamos algumas crises nesses sete anos, a maioria por causa do grau de maturidade. Ele é mais acomodado e pensa apenas no presente; eu me preocupo em planejar o futuro. Teve uma fase em que ele saía com os amigos e voltava muito tarde. Reclamei, ele aceitou, e as coisas entraram nos eixos porque conversamos bastante. Geralmente, quando a mulher é mais velha, a questão de ter ou não um bebê vem logo à tona, mas, como ele tem um filho do primeiro casamento e eu nunca fui louca por ser mãe, não houve conflitos. Se pintasse, tudo bem, mas hoje já descartamos essa possibilidade. O que conta é que nos respeitamos muito, somos cúmplices e amorosos um com o outro. Tanto que a diferença de idade ficou em segundo plano.
"No começo,não levei Erick a sério porque ele era mais novo."
SILVIA
Caso de amor e justiça
MARIA BENEDITA AZEVEDO ARAÚJO, 47 ANOS, NUNCA TINHA PENSADO EM SER ADVOGADA. ATÉ QUE NUMA VISITA A UMA PENITENCIÁRIA NO SUL DO PAÍS SE APAIXONOU POR UM DETENTO, LUIZ ROBERTO, 51 ANOS, QUE SE TORNARIA SEU SEGUNDO MARIDO.Eu me casei pela primeira vez aos 16 anos, com um pastor, e passei a adolescência cuidando da casa, do marido e dos meus dois filhos. Vivia envolvida com o trabalhos da igreja e cantava num quarteto evangélico. Numa ocasião, participamos de uma celebração em outro estado para evangelizar presidiários. No final, dei meu endereço a Luiz Roberto, um dos detentos e redator do folhetim interno do presídio - ele ficou de me enviar um exemplar com uma nota de nossa presença. A partir daí, começamos a nos corresponder com freqüência. O presídio ficava no sul do país, a 400 quilômetro de São Paulo, a minha cidade, mas nós nos envolvemos intensamente. Retomei os estudos e passei no vestibular para direito com o único intuito de ajudá-lo a sair do cárcere. Enquanto cursava a faculdade me desquitei, rompi com todas as fronteiras do bom senso - para uma família evangélica, o casamento é indissolúvel. Durante anos o visitei na cadeia. A situação processual do Luiz Roberto era dificílima, mas eu o amava e acreditava na sua conversão ao cristianismo. Quando me formei, batalhei por sua liberdade. Depois de seis anos, consegui sua transferência para uma prisão do interior paulista, a 60 quilômetros da capital. Em 1992, com ele ainda preso, nos casamos. No início de 1994, engravidei e ele saiu em liberdade condicional. Aí tivemos de enfrentar restrições de tudo e de todos: igreja, família, as dificuldades para um homem de 40 anos entrar no mercado de trabalho. Luiz Roberto cumpriu pena por cerca de 14 anos por assaltos e tráfico de drogas e lutou para reintegrar-se à sociedade. Hoje trabalha com network marketing e realiza atividades sociais ajudando dependentes químicos a se libertar do vício. Superamos o inferno e recebemos a dádiva de ter um filho perfeito. Como meu marido foi usuário de drogas, eu temia pela saúde do bebê. Hoje, o meu caçula tem 10 anos e brinca com os seus sobrinhos, meus netos. Agradeço a Deus o fato de os meus filhos mais velhos terem aceito a minha opção. Acredito sinceramente que não há fronteiras para o amor e que ele vence tudo.
"Durante anos eu visitei Luiz na prisão e lutei por sua liberdade."
MARIA BENEDITA
A dificulidade move coraçõesA psicanalista e terapeuta sexual ANA MARIA CANOSA, membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, fala sobre o encanto dos amores difíceis.Faz parte da nossa cultura o fascínio por histórias 'impossíveis', como ROMEU E JULIETA - um clássico, apesar do final infeliz.Além disso, crescemos ouvindo que a Bela Adormecida foi acordada pelo beijo de um príncipe que nunca havia visto na vida... Quer relação mais fadada ao fracasso? Afinal, os dois mal se conheciam, suas chances eram mínimas.Mesmo assim, eles viveram "felizes para sempre". Mas, certamente, ele não passou todo o tempo beijando nem ela dormindo. Quanto às quatro histórias reais, o que as levou a desfechos positivos? Justamente o investimento do casal na relação. Foi a energia amorosa e a confiança de ambas as partes que possibilitou o sucesso. Se um não tivesse correspondido ao esforço que o outro mobilizou para a relação, a paixão se tornaria amor platônico de um só. Muitas de nós gostaríamos de viver um romance como o deles. Porque nesses enredos, recheados de obstáculos desafiadores, encontramos ingredientes de que a vida humana carece muito: emoção, encantamento e aventura.
junho 2005

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